Espaço Industrial Mundial

Espaço Industrial Mundial

Espaço Industrial MundialTeorias da Localização Industrial
O local de instalação de um empreendimento, no mundo capitalista, é essencial para determinar o sucesso ou o fracasso da empresa. Com a indústria não é diferente, pois há uma tendência de ocorrer, num primeiro impulso de industrialização de uma região, uma concentração fabril num meio urbano ou proximidades, buscando aproveitar as infra-estruturas existentes nas cidades para reduzir os custos de instalação e assim ampliar os lucros (aproveitam a oferta de mão-de-obra, possibilidade de mercados, rede de transportes, sistema energético, estrutura de comunicações, incentivos governamentais...). A região que passa a ter uma dinâmica de atração industrial é conhecida por economia de aglomeração. As mais antigas concentrações fabris no mundo, como o Vale do Reno-Rhur (Alemanha), a região dos Grandes Lagos e Nordeste dos EUA, a baía de Tóquio ou ainda a região metropolitana de São Paulo, são exemplos de tradicionais áreas de aglomeração industrial.

Com a saturação industrial de uma antiga região fabril ocorre um aumento nos custos de instalação e/ou manutenção das empresas, devido a formação de sindicatos reivindicando melhores salários, aumento nas tarifas, impostos e serviços (transporte, segurança ...) e preços de terrenos, congestionamentos atrasando chegada e saída de mercadorias e matérias-primas, leis ambientais mais rígidas exigindo gastos com tecnologia, entre outros fatores. Com isto há uma tendência a ocorrer uma dispersão fabril, com as indústrias buscando novas áreas atrativas. A dinâmica de repulsão fabril de uma antiga região industrial recebe o nome de deseconomia de aglomeração. Nos países desenvolvidos as indústrias de alta tecnologia (que não necessitam muita matéria-prima ou energia) buscam se afastar das antigas aglomerações fabris para subúrbios afastados ou pequenas cidades universitárias, onde conseguem mão de obra ultra-qualificada; já as indústrias tradicionais deslocam-se aos países subdesenvolvidos onde conseguem vantagens comparativas.

As Revoluções Industriais

A indústria desenvolveu-se em etapas, ou estágios: até ao final do Feudalismo predominou o artesanato, caracterizado por não haver divisão do trabalho, pois o artesão domina todo o processo produtivo e realiza todas as atividades, da captação da matéria-prima ao produto final e sem o emprego de máquinas, sendo usado apenas ferramentas simples. Do século XVI ao XVIII desenvolveu-se a manufatura, onde já ocorre uma divisão de trabalho e o emprego de máquinas simples mas o trabalhador ainda tem noção geral do processo produtivo. A indústria moderna surgiu com a Revolução Industrial, no final do século XVIII e século XIX, e tem como características a extrema divisão do trabalho onde o operário fica alienado do processo produtivo, além do emprego maciço de máquinas movidas a modernas fontes energéticas, que condicionam o ritmo de trabalho (específico) do operário e produz artigos estandartizados (iguais) numa escala muito superior que os estágios anteriores.

Revolução Técnica-científica-informacional

O modelo fabril baseado na indústria automobilística e petroquímica, encontra sua saturação na década de 70 com a crise do petróleo. Além de inflacionar o mundo todo causando sérios problemas econômicos (principalmente aos países pobres), detonou também uma crise energética ao questionar o modelo econômico-industrial vigente, altamente dependente de uma fonte que é não-renovável e com as jazidas monopolizadas pela OPEP; ainda provocou uma crise ambiental, já que a sociedade industrial se pautou sobre o petróleo que é altamente poluente (oceanos, atmosfera, resíduos não-biodegradáveis). Tudo isso forçou a indústria a se reestruturar, elaborando tecnologias para reduzir custos com materiais, com energia e aumentar sua eficiência produtiva, com o objetivo de se adequar à nova conjuntura econômico-energética-ambiental. A este evento que ainda hoje vivenciamos, e de forma radical, convencionou-se o nome 3ª Revolução Industrial ou Revolução Tecnocientífica, que exige maciço investimento em P&D (pesquisa e desenvolvimento) e novos ramos industriais tornam-se os mais valorizados, justamente os de alta-tecnologia como a microeletrônica, a robótica, informática, pesquisa energética e de materiais, a de comunicações, biotecnologia, aeroespacial, entre outros. Estas indústrias modernas, na verdade, tratam-se de centros de pesquisa e laboratórios altamente equipados que nada lembram as tradicionais fábricas da fase industrial anterior, sendo enquadradas nos setores de atividades econômicas não como secundário, mas setor terciário moderno. Hoje, face a esta fase, a sociedade industrial vem cedendo lugar à sociedade informática e este modelo industrial vem alterando a organização da produção, do trabalho e do território nos países de tecnologia avançada.

As Regiões Industriais no Globo: Europa ocidental e Estados Unidos

Os principais países industrializados da Europa Unificada são o Reino Unido, a França, a Alemanha e a Itália (os quatro europeus do G-7). Todos tiveram seu impulso industrializante pós-Segunda Guerra apoiados no contexto da Guerra Fria e financiados pelo Plano Marshall estadunidense, o qual foi instrumento de financiamento dos governos conservadores diante do crescimento do socialismo interno (problemas sociais após o conflito) e da ex-URSS. Todos investiram muito em tecnologia bélica e participaram da 3ª Revolução Industrial.

O Reino Unido nos anos 80 adotou de forma radical o neoliberalismo da primeira ministra – “dama de ferro” – M. Tatcher e hoje o Reino Unido exibe um dos piores indicadores sociais da União Européia e adota incondicional aliança bovina com a ex-colônia americana.

Na França , nos anos 80 e 90, a esquerda socialista domina o poder executivo com os governos Mitterrand e Jospin, que mantiveram a participação estatal em setores estratégicos (aeroespacial, automobilístico, correios, aeronáutica, energia...) e os benefícios de um sistema de bem-estar social (em 2002 os conservadores liberais voltam ao poder com J. Chirac). As principais regiões industriais francesas estão na região metropolitana de Paris, a Alsácia e Lorena e a região mediterrânica de Marselha.

A Alemanha sofreu a divisão de seu território em 1949, sendo que a antiga Alemanha Oriental (República Democrática Alemã) seguiu o modelo industrial planificado soviético. A ex-Alemanha Ocidental, semelhante a França e o Reino Unido, obteve apoio dos Estados Unidos e investiu pesado em educação e tecnologia aponto de tornar-se, junto com a potência americana, nos maiores exportadores mundiais. Com decadência da estrutura socialista e a “reunificação” alemã (em verdade incorporação da Alemanha pobre pela rica), apesar dos gastos com modernização do lado oriental e diferenças sociais, a Alemanha emerge no século XXI como a potência econômico-industrial europeia.

A Itália, a exemplo da Alemanha, teve uma industrialização mais atrasada pela tardia unificação territorial (somente no século XIX ) e a participação nas duas guerras mundiais e, a exemplo dos germânicos ocidentais, investiu em pesquisa e educação no pós-Segunda Guerra - além da própria integração européia incrementando o comércio – tornando-se um dos mais industrializados. A região industrial italiana situa-se ao norte (Vale do Pó), tendo como centros industriais de destaque em Milão e Turim. O sul italiano é mais agrário e pobre em relação ao norte industrial.

A região dos Grandes Lagos e Nordeste dos Estados Unidos foi onde concentrou-se tradicionalmente a indústria norte-americana, fruto de um passado colonial de povoamento que precocemente desenvolveu (copiou) uma manufatura e, com a consolidação capitalista pós Guerra de Secessão, o aproveitamento das jazidas de carvão mineral e ferro dos Montes Apalaches e sul dos Grandes Lagos. Grandes centros industriais como Chicago, Detroit, Pittsburg e Filadélfia compõem esta região industrial tradicional conhecida por “manufacturing belt” que, devido sua saturação fabril, também é conhecida por “snow belt”, ao repulsar indústrias, em especial as de alta tecnologia e, para o mundo pobre, transfere as indústrias tradicionais que requerem muita mão-de-obra, energia ou matérias-primas. Devido a esta evasão fabril ocorrem mudanças significativas nestes antigos centros industriais, que vão terciarizando-se e desvalorizando antigas zonas industriais, chegando ao ponto de até demolir antigas fábricas (daí o termo “dust belt” para também designar aquela região). As áreas de aquecimento industrial, especialmente as que estão se firmando como tecnopólos, são conhecidas por “sun belt”, sendo as mais destacadas as regiões de Seattle (aeronáutica), San Francisco a Los Angeles, na costa oeste americana, com o silicon valley (vale do silício, uma das mais importantes regiões de pesquisa informática do planeta); na região sul, no Texas, em Dallas e Houston que, apesar de constituírem tradicionais centros produtores de petróleo e petroquímico do Golfo do México, destacam-se como centros de tecnopólo (o “silicon prairie”) e de pesquisa aeroespacial; o mesmo ocorre na região da Flórida com o “silicon beach” e o Cabo Canaveral. Outra importante região de expansão da indústria americana ocorre além de seu território, porém colado a ele, no norte mexicano. Ali são instaladas as chamadas “maquiladoras”, indústrias principalmente americanas (mas também asiáticas) de montagem final, cujos componentes dos produtos chegam de fora e são montados com a mão-de-obra barata mexicana (especialmente feminina), facilidades fiscais e frágeis leis trabalhistas, com o produto final destinando-se ao mercado americano. As maquiladoras cumprem diversas funções ao capitalismo americano, além da produção fabril a baixos custos; serve também para tentar refrear a imigração ilegal bem como reclamações políticas do México por investimentos, além de ser um instrumento de pressão contra a ação dos sindicatos norte-americanos.

Japão

O processo de modernização/industrialização do Japão inicia-se na segunda metade do século XIX, com a marinha norte-americana obrigando sua abertura comercial e, principalmente, com a Era Meiji (1868-1912), que encerrou o feudalismo japonês depois de breve contato com o ocidente (portugueses) no século XVI e fechando-se por mais 250 anos. O período Meiji reestruturou a economia e a política do Japão, tornando-o potência industrial em 1912 através de algumas estratégias como: instituição da obrigatoriedade do ensino e reformulação política com base em modelos ocidentais; intercâmbio comercial/tecnológico com o ocidente; criação dos zaibatsu, que foram antigas famílias feudais que receberam apoio irrestrito do governo e formaram os conglomerados industriais que monopolizam a economia japonesa. Além destes cabe destacar o imperialismo nipônico da primeira metade do século XX, invadindo o oriente e sudeste asiático num período que se estendeu até ao final da 2ª Guerra Mundial, quando foi interrompido o crescimento japonês com a aventura no Eixo, culminando com a trágica experiência atômica de Hiroxima e Nagasaki.

Apesar da “ajuda” do Plano Marshall, a reconstrução da economia japonesa do pós 2ªGuerra ocorreu basicamente por fatores internos, à margem dos parcos recursos da intenção capitalista dos EEUU. Após o fim da ocupação americana (1945-1951) o Japão reestruturou os zaibatsu, assumindo as características atuais do monopólio econômico altamente apoiado pelo governo. Criou mecanismos de captação de recursos econômicos internamente – uma poupança interna, através de impostos, débil sistema de previdência e, do lado dos empresários, baixíssimos salários e com extenuante carga horária de trabalho, resultando em mais capitalização do setor industrial. O Japão apoiou-se também numa agressiva política exportadora, fundamentada na desvalorização do iene e na elevada produção a baixos custos. A proibição de investimentos militares como restrição da 2ª Guerra fez o país reverter capitais maciços para a educação, que caracteriza-se hoje como um dos mais rígidos sistemas educacionais do mundo (mas também dos mais eficientes e competitivos). Outro elemento importante trata-se do aspecto cultural e religioso do xintoísmo, que prega, entre outras, um sentimento de dever para com a nação e a família, bem como o respeito à hierarquia; o que foi de certa forma um ponto de apoio ao desenvolvimento japonês como um resultado de esforço comum (a identificação da empresa como uma família, o emprego vitalício, a desestruturação sindical).

Na década de 50 o Japão deu ênfase na indústria de base como fator de reconstrução do país, investindo na siderurgia e indústria naval (o que tornou-o um dos maiores produtores de aço e enorme frota naval, possibilitando-o buscar matérias-primas nos pontos mais distantes do globo), além da metalurgia e automobilística. Nos anos 60 começa a firmar-se como grande exportador de produtos de baixa tecnologia como calçados, têxteis, brinquedos, relógios e eletrônicos mais simples (copiando e miniaturizando artigos europeus e americanos). Os frequentes e crescentes saldos positivos são revertidos para o processo produtivo e logo passou de exportador a investidor (apesar do colapso ambiental gerado em seu território).

Com a crise do petróleo dos anos 70 o Japão opta por investimentos em setores de alta tecnologia, como forma de reduzir dependência energética e de matérias-primas, participando da Revolução Tecnocientífica, desenvolvendo principalmente tecnologias produtivistas como a robótica, e repassando para os Tigres Asiáticos os setores mais tradicionais. Os anos 80 assinalam o auge do milagre japonês, com pleno domínio tecnológico, firmando-se como potência econômico/financeira e propiciando enorme qualidade de vida e consumismo interno. Os anos 90 foram marcados por crise financeira (estouro da bolha especulativa )e ampliação da concorrência global e freando o dinamismo japonês.

Países subdesenvolvidos tiveram uma industrialização tardia, em função de sua inserção subordinada na antiga Divisão Internacional do Trabalho como fornecedores primários, determinando ainda atraso e dependência tecnológica. As duas principais regiões industriais são países da América Latina (Brasil, México, Argentina e Chile) e os chamados Tigres (ou Dragões) Asiáticos, sendo que seus processos de industrialização seguiram caminhos diferentes.

A América Latina seguiu o modelo de substituições de importações diante das crises no comércio mundial que interrompiam a função agroexportadora destes países na D.I.T. clássica, necessitando produzir internamente os manufaturados antes importados: num primeiro momento, até a crise de 1929, produziam bens não-duráveis e, após a intervenção estatal keynesiana, a partir dos anos 30, passou-se a investir na indústria de base, sendo que após a 2ª Guerra, com a implantação transnacional inicia-se em peso a fabricação de bens duráveis. Nos anos 90, sob adaptação à globalização transnacional os novos grupos políticos abraçam as flexibilizações neoliberais. Apesar de interrupção parcial deste modelo com a ascensão de governo opositores freando parcialmente as privatizações, passando a exercer maiores poderes sobre suas economias e recursos naturais, além de se projetarem como protagonistas em questões diplomáticas internacionais. A África do Sul teve trajetória semelhante porém com o cruel diferencial das leis racistas do apartheid, que aproveitou-se da exploração da maioria da mão-de-obra sob leis condicionando-as à pobreza e segregação socioespacial.

Os chamados “Tigre Asiáticos” (ou “Dragões), apesar de muito diferentes entre si, iniciam sua industrialização nos anos 50, sob a lógica geopolítica de contenção socialista e funcionando como um “cordão sanitário” capitalista ao receber investimentos ocidentais. No geral adotaram a estratégia de serem “plataformas de exportação”: produzirem barato em função de mão-de-obra superexplorada sob governos autoritários, desvalorização das moedas locais para tornar produtos mais baratos internacionalmente, facilidades fiscais e de livres taxas alfandegárias sobre importação de componentes e exportação de manufaturados ali montados – são Zonas de Processamento de Exportação (ZPE’s).

Há os “Tigres” de primeira leva, consolidados nos anos 7º (Hong Kong, Taiwan, Cingapura e Coreia do Sul), inicialmente com capitais ocidentais e posteriormente japoneses. Nos anos 80 exportavam artigos de baixa qualificação (confecções, calçados, brinquedos...), mas com os constantes superávits investiram em educação e empresas locais, tornando-se grandes exportadores tecnológicos atualmente. A crise financeira de 1997 interrompeu o enorme ciclo de crescimento econômico e forçou os poderosos felinos a dobrarem-se ao FMI com austeras medidas de cortes governamentais e, de quebra, nos salários.

Hong Kong configurou-se como poderoso centro financeiro e portuário, caracterizando-se como cidade global e já integrada às zonas econômicas “abertas” chinesas. Em 1997 foi reincorporada à China, que se comprometeu a respeitar o capitalismo de Hong Kong por 50 anos (nas palavras do então chefe de Estado chinês, Deng Xiao-ping: “um país, 2 sistemas”). 

Cingapura é área estratégica para o Estreito de Málaca nas rotas marítimas do sudeste da Ásia, trata-se de um ditadura adocicada pelo sucesso econômico exportador canalizado para investimento tecnológico e busca atrair “cérebros” para compor laboratórios e centros de pesquisa transnacionais a fim de se consolidar como um tecnopólo internacional.

A Coreia do Sul é o “Dragão“ mais industrializado, tanto sob apoio capitalista para fazer frente ao norte comunista, quanto pela adoção de modelo de “plataforma de exportação” com imensos superávits, mas de forma estratégica, a exemplo do Japão, fortalecer empresas locais (os “chaebols”) fortalecendo o mercado interno e ganhando mercados extrarregionais internacionais com informática, microeletrônicos e automobilística através e empresas como Hyundai, Kia, Samsung, LG, entre outras.

Taiwan vive uma instabilidade política pela dissidência à China socialista desde 1949, mas que, sob apoio estadunidense, até hoje, se auto-afirma como a “China Verdadeira” (ou “Nacionalista”) e representou a ONU até o início da década de 70. Substituída pela China continental por manobra de interesses ocidentais no Conselho Permanente de Segurança da ONU para desarticular os votos socialistas, a China exigiu a expulsão de Taiwan considerando-a uma “província rebelde” (que a ONU acata), apesar de esta ilha estabelecer autonomia, eleições e produtos “made in Taiwan” e, inclusive, investir nas ZEE’s chinesas.

Com o sucesso exportador os Tigres de primeira leva repassam suas indústrias tradicionais para os “novos Tigres”, como Tailândia, Malaysia, Indonésia, Filipinas, Brunei e a abertura controlada dos “Tigres Vermelhos” Vietnã e China.

A ex-URSS, em especial a Rússia, além da antiga Europa do leste, encontram-se fragilizados em seus setores industriais, já que a abertura à economia de mercado revelou a obsolescência de seu aparato industrial, incapaz de competir com as transnacionais capitalizadas e modernas que afluíram para estes países. O exemplo mais traumático é o da Rússia, que atualmente exporta, praticamente, somente matérias-primas para o mercado internacional.

A planificação industrial revelou-se incapaz de gerar dinamismo frente à Revolução Tecnocientífica que se organizava no mundo capitalista. A rigidez e a burocratização dos planos quinquenais contrastam com a necessidade de agilidade e criatividade no processo empresarial, além da falta de produtos de consumo essenciais, em favor do belicismo da Guerra Fria.

A indústria no mundo socialista teve como características essenciais exatamente a planificação das atividades fabris, e não conforme os interesses do mercado, mas do Estado. Sob esse aspecto, a localização industrial não seguiu a lógica da redução de custos, mas a uma estratégia estatal, que instalava fábricas de forma descentralizada conforme suas necessidades (militares, de povoamento, junto a jazidas minerais...). Outra característica foi a ênfase na indústria de bens de produção, visando a coletividade (e rejeitando o consumismo) e a manutenção da Guerra Fria. Estes caracteres, apesar de insuficientes atualmente, impulsionaram a economia soviética, que foi um dos países mais atrasados da Europa na década de 20, mas que chegou a disputar com os EUA no pós-2ª Guerra. A indústria petrolífera tem sido o fator essencial da manutenção econômica russa, configurando-se ao lado da Arábia Saudita como os maiores produtores mundiais.

A Europa oriental teve semelhança com a Rússia, com o detalhe da extrema dependência das enormes jazidas de carvão mineral da região (em especial na Polônia); o que lhes gerou um altíssimo grau de degradação ambiental, evidenciado com a incidência de chuvas ácidas em suas florestas temperadas.

Os “socialistas pobres” (do sudeste asiático e africanos), nunca conseguiram implementar uma planificação dado que a concretização do socialismo nestes países foi turbulenta, com guerras e guerrilhas provocando desgaste econômico e evasão de quadros técnicos.

O Vietnã, desde 1986, vem aplicando uma política econômica no modelo chinês e, atualmente operando uma expansão cosmopolita da capital Hanói. “Em 2009, a revista eletrônica Smart Travel Ásia classificou Hanói como a sexta melhor cidade do continente para compras, atrás de Hong Kong e Cingapura, mas à frente de Bali, Xangai, Tóquio, Pequim e Seul. O Vietnã está em voga. Em 2008, os projetos imobiliários atraíram para o país mais de US$ 28 bilhões, ou seja, quase a metade dos investimentos diretos estrangeiros. Nas grandes cidades, os preços do mercado imobiliário decolaram” (Le Monde Diplomatique, edição 32, março, 2010.) O partido único transita facilmente com o capital privado e usa de seu poder para ampliar a cidade, mesmo diante do reconhecimento da família e da propriedade privada.

A Coreia do Norte desenvolveu um aparato nuclear importante, mas encontra-se em colapso econômico pelo isolamento enfrentado na última década, com constantes surtos de fome e tentando uma aproximação com a Coreia do Sul. Cuba detém uma pequena indústria tradicional (alimentícia, têxtil, calçados, charutos, rum e agroindústria canavieira) e sofre com seu isolamento por parte da antiga URSS e o insensato embargo comercial norte-americano, forçando Fidel Castro a uma controlada abertura a investimentos estrangeiros, em especial no setor turístico.

A China é o país que obtém os atuais recordes de crescimento econômico nos últimos 20 anos. Apesar de um alinhamento à URSS logo após Revolução Chinesa, na década de 50, a tentativa de centralização soviética e a pretensão de um socialismo próprio (Maoísta), criam uma cisão entre os dois colossos socialistas (a Questão Sino-Soviética) nos anos 60, com a China voltando-se a uma estruturação agrícola interna, com o desenvolvimento das comunas populares. Em fins dos anos 70, após a morte de Mao Tsé-tung e de disputas internas pela supremacia do partido comunista, sobe ao poder Deng Xiaoping em 1978, que passa a imprimir uma abertura econômica controlada permitindo a propriedade privada no campo, uma abertura ao turismo, maior participação no mercado internacional, reabertura de bolsas de valores em Pequim e Xangai e, principalmente, a criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEE's): áreas junto ao litoral abertas a investimentos transnacionais (especialmente japoneses e dos Dragões), apoiadas em facilidades fiscais e baratíssima mão-de-obra, voltadas à montagem de produtos destinados ao mercado externo (além das possibilidades do imenso mercado interno chinês). A China é hoje o maior fabricante de calçados, brinquedos e tecidos do mundo, além de montar sofisticados aparelhos eletroeletrônicos e componentes de microcomputadores.

A China passou sim por um grande processo de abertura comercial e liberalização financeira, mas se o país acolheu bem o investimento externo direto, o fez de maneira seletiva, atraindo capital produtivo e estimulando a criação de joint ventures; do mesmo modo, se é verdade que a China tornou-se atraente por sua grande reserva de mão-de-obra barata, é preciso ressaltar que se trata de uma reserva de elevada qualidade em termos de saúde, educação e capacidade de autogerenciamento. Além disso, ao invés de privatização intensa, os chineses optaram por expor suas empresas estatais à concorrência (interna e externa, pública e privada), e o papel do governo na promoção do desenvolvimento tem aumentado. Destacam-se tanto o incentivo às Zonas de Processamento para Exportação (ZPEs) em regiões urbanas quanto o estímulo às Empresas de Aldeias e Municípios em regiões rurais (EAMs). Atualmente, o governo chinês é o que mais intervém diretamente para promover a colaboração entre empresas, bancos e universidades no desenvolvimento de novas tecnologias.

Com a reincorporação de Hong Kong, em 1997, o PIB chinês aumentou em 20%, aproximadamente, fora a absorção de uma das principais áreas portuária e financeira do mundo (com o compromisso do governo em respeitar o capitalismo de Hong Kong por 50 anos, num conceito de "um país, dois sistemas"). Em 1999 reincorpora Macau, importante área de lazer e turismo com seus cassinos. Porém os problemas também se avolumam, crescendo as diferenças de remuneração em relação ao interior do país, criando exclusão nas grandes cidades e ainda comprometendo o meio ambiente (das 10 cidades mais poluídas do mundo, 6 são chinesas).

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